segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Cavaco Silva diz que é preciso verdade para enfrentar tempos difíceis

O Presidente da República, Cavaco Silva, defendeu ontem que Portugal vive “tempos difíceis” e que a realidade não pode ser “iludida pelos agentes políticos”. No discurso desafiou o “comum dos portugueses” a acreditar nas suas capacidades e a não baixar os braços perante o futuro, que reconhece ser incerto. Os partidos da esquerda aplaudem, mas defendem que o Presidente devia ter sido mais crítico da actuação do Governo.

Durante as comemorações dos 98 anos da Instauração da República nos Paços do Conselho, Cavaco Silva traçou um quadro “real” das dificuldades que os portugueses enfrentam no dia-a-dia. Falou das famílias que lutam para pagar os empréstimos à habitação, dos idosos cuja reforma mal chega para as despesas básicas, daqueles que perderam o seu trabalho, de novas formas de pobreza e exclusão social.

“O que é vivido pelos cidadãos não pode ser iludido pelos agentes políticos. Quando a realidade se impõe como uma evidência, não há forma de a contornar”, defendeu, numa crítica subtil à política de propaganda do actual Governo.

O presidente lembra que Portugal “ tem registado fracos índices de crescimento económico”, afastando-se “dos níveis de prosperidade e bem-estar dos parceiros europeus”. E que continua a braços com “a insustentável tendência de endividamento externo” e marcado por profundas disparidades regionais, enfrentando agora uma situação internacional pouco favorável.

E deixou claras o conjunto de prioridades que quer ver na agenda política: regressar ao caminho da convergência real com o desenvolvimento médio da EU, a redução do desemprego, a competitividade empresarial e sobretudo a necessidade de uma aposta contínua na educação e na qualificação.

Apelo contra o desânimo

Cavaco Silva sublinhou ontem a “confiança que tem no comum dos portugueses”, deixando o apelo para que se mobilizem e não baixem os braços perante as dificuldades. “Somos capazes de vencer quando os desafios são maiores. Não se deixam vencer pelo pessimismo ou pelo desânimo”, apelou.

Imune às críticas, o primeiro-ministro, José Sócrates, sublinhava, no final da cerimónia nos Paços do Concelho, a “consonância perfeita” entre o discurso do Presidente da República e o Governo, sobretudo no apelo à mobilização dos portugueses para enfrentarem as dificuldades.

“Gostei muito do discurso do senhor Presidente da República, em particular do apelo que fez à mobilização dos portugueses para terem energia e ambição no sentido de que sejam enfrentadas as dificuldades”, afirmou Sócrates. “Como aliás tenho sempre dito. As dificuldades do presente resolvem-se com acção, com vontade e com ambição e não com um baixar de braços”.

Já às prioridades de actuação política defendidas por Cavaco Silva, o primeiro-ministro responde com a estabilidade das contas públicas e as medidas sociais tomadas pelo Governo. “Há três anos atrás Portugal tinha uma gravíssima situação financeira, mas agora já não temos esse problema. Portugal tem as contas públicas em ordem e isso é um património do país que devemos sublinhar e manter”, defendeu. E optou por sublinhar os resultados “muito importantes” das medidas tomadas pelo Governo no combate à pobreza.

“Nestes últimos três anos, saíram da pobreza mais de 130 mil idosos. O Governo não só fez como está a fazer tudo para tirar mais pessoas da situação de pobreza”, reivindicou, enumerando medidas como o complemento solidário para idosos, o aumento dos abonos de família e o complemento pré-natal.

in publico.pt

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